Museu da Tolerância | 3º Lugar
ASSENTAMENTO E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL: A TÉCNICA COMO ELEMENTO FUNDADOR DO LUGAR
A ação inaugural que demarca positivamente o território e define os espaços do Museu da Tolerância realiza-se a partir de três grandes gestos construtivos rigorosamente coordenados. Primeiramente, o solo é escavado e contido, gerando o espaço necessário para a futura ocupação. Desse vazio ergue-se um edifício de estrutura autônoma que abriga: em subsolo, as áreas de exposição; ao nível do solo, as áreas publicas e de convívio; e, elevados, os ambientes de trabalho e estudo. Por fim, os planos de fechamento e vedações externas são agregados a essa ossatura, conferindo o aspecto final do edifício. A partir dessa definição inicial, a técnica é convocada como instrumento fundamental para a desejável liberação do nível do solo, a favorecer a diversidade das manifestações artísticas e culturais que o Museu irá catalisar. Cria-se assim um espaço central coberto e qualificado com trinta e cinco metros de vão livre, a congregar as principais funções publicas e acessos ao edifício. Propõe-se uma estrutura composta por lajes nervuradas em concreto armado com protensão de vigas-faixa transversais sustentados em seu perímetro por quatro pontos de apoio. A esse sistema superpõem-se no nível da cobertura vigas longitudinais em perfis metálicos soldados que permitem atirantar a porção central dos pavimentos inferiores. Outro conjunto de vigas transversais faz o suporte superior dos painéis de vedação externos, reforçado a independência construtiva e a constituição tectônica desses elementos. A ação que promove a ocupação do terreno busca ainda garantir a preservação da vegetação existente, principalmente dos exemplares de maior porte. Para isso, fez-se a separação das áreas de exposição e de apoio técnico em subsolo a partir do reconhecimento de um conjunto de três árvores cuja preservação entendia-se como desejável, orientando o desenho cuidadoso dos arrimos. Ainda pela premissa de preservação integral dessa vegetação, fez-se opção pela redução da ocupação da porção superior do edifício em relação aos afastamentos permitidos.
O ATENDIMENTO ÀS DEMANDAS DE USO: O EDIFÍCIO E O ESPAÇO PÚBLICO
Ao se considerar a função social do museu contemporâneo, há que se privilegiar a criação e manutenção do espaço público como suporte para a troca, o encontro, a conciliação das diversidades e o estimulo à vida social e às práticas da tolerância. Esta proposta busca reforçar o caráter publico e aberto pretendido para a instituição e marcar afirmativamente a presença do Museu da Tolerância no Campus da Universidade através de um amplo espaço público de transição e acolhimento situado ao nível térreo. A promover a ampla liberação do terreno, protegendo e qualificando o nível de chegada, eleva-se a porção superior do edifício acima do solo, definindo, assim, uma plataforma coberta que recebe o pedestre e orienta os fluxos aos diversos itens do programa com clareza e simplicidade. Tratada como continuidade do espaço publico e com o mínimo de obstáculos físicos, esta plataforma-praça reforça o caráter democrático e a total permeabilidade do edifício e das atividades que nele se desenvolvem. O desenho dessa praça coberta propõe a reconstrução da topografia e a conciliação das diferenças de nível no terreno em sua maior dimensão. Convertida em espaço gregário, amplo e desobstruído, ela reúne os ambientes de caráter mais publico, a saber: cinema, restaurante, loja e acessos aos demais espaços. A partir dela organizou-se o programa de necessidades buscando tornar clara distinção entre os espaços de estudo e aprendizagem, elevados da plataforma de acesso, e os espaços destinados às exposições museográficas, situados em subsolo. Esta organização almeja a melhor correspondência entre usos e espaços propostos, privilegiando as melhores condições de insolação, ventilação natural e vistas significativas para os ambientes de trabalho ou que demandam permanência prolongada, como biblioteca, laboratórios, administração, coordenação, auditório e salas de aula. Modo oposto, a necessidade do controle estrito da iluminação, dos ruídos e da climatização artificial, orientou a disposição dos ambientes de exposição em local confinado. Para esses espaços, foram pensadas grandes áreas livres, a permitir maior liberdade e flexibilidade na montagem de exibições temporárias e permanentes. Favorecendo essa concepção, foi proposta a integração dos espaços de apoio e serviço em área adjacente, concentrando os núcleos de instalações sanitárias, circulação vertical, vestiários, copa, reserva técnica e montagem. A concepção do edifício primou por garantir o acesso universal e irrestrito a todos os espaços que compõem o Museu da Tolerância. Para tanto, concorre a ordenação vertical do programa de necessidades em meios níveis favorecendo o uso de rampas acessíveis como principal elemento de circulação e articulação das funções do Museu. A partir dessa opção, diferentes atividades desenvolvem-se de maneira contínua e homogênea sem imputarem verdadeiras rupturas ou segregações aos espaços. Optou-se pela interiorização dos ambientes de trabalho e estudo, favorecendo a concentração e a introspecção necessária ao bom desempenho das atividades produtivas. De maneira contrária, os espaços coletivos e circulações foram dispostos na periferia dos pavimentos, estimulando o convívio social e a fruição da paisagem do campus. A demanda por estacionamento e local para carga e descarga foi solucionada pelo aproveitamento das áreas externas de recuo e pela disposição criteriosa das cinqüenta vagas solicitadas, de modo a garantir a preservação integralmente das árvores existentes e a permeabilidade do solo garantida pelo piso intertravado com grama. Também foi proposta baia para embarque e desembarque de veículos de turismo externa ao Museu e incorporada ao ponto de ônibus existente, o que exigiu seu redesenho.
O TRATAMENTO PLÁSTICO DOS VOLUMES E SUPERFÍCIES
Esta proposta para o Museu da Tolerância busca garantir a presença singular do edifício na paisagem através de sua diferenciação plástica em relação ao seu entorno imediato. Buscou-se essa diferenciação pela redução das massas construídas e desmaterialização do volume mais visível, correspondente ao bloco superior. Foi opção, portanto, fixar o caráter estereotômico da base, conformando-a a partir de seções e cortes rigorosos sobre o novo solo criado, a definir os principais acessos e ocultar as maiores massas construídas. Modo oposto, a porção superior do edifício apresenta-se em solução tectônica de maior leveza, favorecida pela opção do vão livre central e redução das massas aparentes. Essas ações reforçam a distinção feita entre as áreas de exposição situadas em subsolo e ambientalmente controladas, dos espaços de trabalho e estudo, elevados sobre pilotis e dotados de iluminação e ventilação naturais. Além da disposição de parte do programa edificado em subsolo, outras três estratégias compositivas foram conjugadas para obtenção do desejado efeito de redução das massas construídas, a saber: a valorização dos planos de vedação externos como elementos autônomos e independentes da estrutura portante do edifício; o seu prolongamento para além dos limites dos pavimentos, a eliminar arestas que pudessem sugerir um volume prismático; o fracionamento assimétrico desses mesmos planos em conformidade com os principais acessos à praça coberta; e, por fim, a opção pelo uso de um material mais claro, regular e com capacidade de transmitir parte da luz incidente ao interior do edifício. Para compor os planos de fechamento externos, elegeu-se como elemento expressivo o mármore branco cortado em chapas de espessura controlada e fixado em quadros metálicos. Essa opção justifica-se pelas características singulares do material que permitem conciliar a necessidade vedação e estrito controle ambiental com a desejável iluminação do interior dos pavimentos pela luz filtrada pelo mármore. Concorreram ainda para a escolha deste material, a possibilidade de sua montagem a seco e a geração de uma epiderme contínua e homogênea. Para as vedações das interfaces sudeste e noroeste privilegiou-se o uso de panos contínuos de vidro liso e incolor a privilegiar a maior fruição da paisagem e melhor controle da luminosidade e ventilação dos espaços de trabalho e estudo. Na porção oeste do terreno, propô-se um prolongamento das vedações laterais e cobertura do edifício em direção ao conjunto de árvores que se fez preservar. Essa solução, além de permitir a correção das proporções do edifício e de responder à necessidade de controle da incidência solar direta nos pavimentos superiores, configura um espaço de transição prolongado e coberto ao nível da praça publica. O uso dos materiais construtivos em seu aspecto bruto, a dispensar o uso de revestimentos de qualquer natureza, pretende minimizar as operações de manutenção e melhor representar os ideais de simplicidade e honestidade arquitetônicas, imputando ao edifício sede do Museu da Tolerância o desejável caráter de permanência.