parque estadual do cocó | 3º lugar

FUNDAMENTOS DA PROPOSTA – MEMORIAL

1 – O reconhecimento da importância da apropriação cotidiana e simbólica dos espaços públicos pelas pessoas de maneira intensa e diversa. A reestruturação urbanística e paisagística toma como ponto de partida as diversas formas de uso dos espaços públicos do Parque do Cocó, tanto levando em consideração a população que reside nas áreas nobres como também nos bairros populares
circunvizinhos ao parque, e ainda os turistas, de presença constante na cidade e que estão associados a uma importante atividade econômica. A apropriação dos espaços públicos do Parque do Cocó de diversas formas, por diferentes pessoas, em diversos dias da semana e em diferentes horários do dia foi um princípio ordenador desta proposta, considerando que estes são fatores que podem garantir maior longevidade dos equipamentos públicos, maior segurança urbana e, ainda, o reconhecimento coletivo de que os recursos públicos foram investidos no bem estar dos cidadãos. Espaços públicos intensamente utilizados são a marca de cidades que privilegiam a dimensão da vida pública e urbana e que, invariavelmente, têm cidadãos mais felizes;

2 – Inverter a relação da cidade com o Rio Cocó. A cidade de Fortaleza se desenvolveu dando as costas para o Rio Cocó. O intenso processo de urbanização que marcou o crescimento da cidade nas últimas décadas foi caracterizado, especificamente nas áreas urbanas nas duas margens do rio, pela especulação imobiliária e por obras de infraestrutura de transporte de grande vulto. Pouca atenção ao rio Cocó e as suas áreas de proteção ambiental foram dadas. Uma cidade que cresce de costas para um curso d´água que a atravessa, quase sempre o transforma em mero destino de efluentes sanitários e resíduos sólidos. E assim o rio se torna um elemento ora invisível, ora desagradável para a vida urbana cotidiana. Para que essa relação seja invertida, é preciso fazer com que a cidade abrace o rio e passe a zelar por sua condição ambiental. Por isso, esta proposta busca virar a cidade de frente para o rio, dando visibilidade à toda área de proteção ambiental e estabelecendo as mais diferentes formas de relação entre as pessoas e o conjunto ambiental do Cocó;

3 – O Parque como elemento de articulação e não como barreira. A enorme área que compõe o trecho 01 do Parque Estadual do Cocó – objeto do presente concurso – representa uma área não urbanizada muito expressiva, com mais de mil hectares, no meio da cidade de Fortaleza. Como não poderia deixar de ser, essa enorme área que contém não só o Rio Cocó, mas também lagos, extensas planícies fluviais, mangues, áreas de matas, igarapés, tornou-se uma enorme barreira urbana. Na medida em que o crescimento do vetor leste da cidade avançava, e continua avançando, o vale do Cocó tornou-se um obstáculo a ser transporsto. Esta proposta busca criar condições para que o Parque se torne um elemento de articulação urbana, principalmente em relação aos modais peatonais e cicloviários, facilitando caminhos utilizados no cotidiano, encurtando distâncias, favorecendo atravessamentos e permitindo percursos de lazer e turismo ecológico;

4 – Consideração cuidadosa das preexistências. As áreas urbanas do entorno do Parque do Cocó constituem uma enorme diversidade de estratos sociais, de culturas, de paisagens ambientais. Esta
proposta buscou valorizar e potencializar as preexistências culturais, as apropriações dos espaços públicos já existentes, as diferentes formas de viver das diversas áreas do perímetro do parque, especialmente nas dezessete áreas de intervenção propostas;

5 – Desenvolvimento urbano sustentável. Uma intervenção urbanística e paisagística como a que se propõe aqui, de tamanho alcance, que modifica diversas áreas urbanas já consolidadas e que muda a vida de tantas pessoas, precisa ter um forte compromisso com a noção de Desenvolvimento Urbano Sustentável. Isto se traduz com a noção de que é preciso permitir o desenvolvimento econômico da cidade, sem abrir mão da preservação ambiental e da responsabilidade social. A busca pelo difícil equilíbrio entre essas três dimensões, econômica, ambiental e social, é a única forma de garantir uma intervenção urbana que vá melhorar a vida da população mais pobre que reside nas áreas próximas do Rio Cocó, que garanta a preservação ambiental de toda a área e ainda, possibilite o desenvolvimento econômico da cidade.