Redesenho Entorno Praça Liberdade

“O espaço é a acumulação desigual de tempos.”
Milton Santos

Contribuir para a constituição de um domínio público efetivo, menos ligado ao consumo e mais voltado para o entendimento da cidade como lugar público, no sentido republicano do termo, é um sentido primeiro deste projeto. Para isso, o desenho urbano, mais do que ser discreto, deve quase se dissolver, adquirir uma invisibilidade que permita enfatizar seu potencial como suporte, vazio, vaso, recipiente que acomoda a vida e lhe oferece possibilidades virtuosas, antes não imaginadas. Essa condição é algo que permite aproximar a arquitetura e o desenho urbano das infraestruturas, que são certamente as mais discretas obras humanas, aquelas que configuram suportes imprescindíveis para a imprevisibilidade da vida, como dizia Le Corbusier. Essa necessária discrição evita a obra monumental, individualista e ligada à auto-expressão e volta as atenções para a construção do território, a costura do tecido urbano, a constituição de um domínio público de fato, o reconhecimento da história e do tempo na soma de esforços de gerações que trabalharam até aqui para a construção das cidades. Esse sentido sugere que a arquitetura e a construção das cidades somente pode ser um trabalho coletivo e um esforço intergeracional, e o reconhecimento dessa condição passa a exigir uma atenção delicada a tudo o que está ‘em relação’ a um novo projeto. Em outras palavras, uma nova intervenção em um contexto consolidado deve se colocar como mais uma camada entre tantas que contribuem para a construção da cidade, sem diluir, mas, pelo contrário, potencializando as virtudes do que se construiu antes.