vila iapó

Cinco casais de amigos, praticantes de escaladas e amantes da natureza, compartilhavam um sonho comum: construir uma pequena vila com cinco moradias e espaços de uso comum para passar finais de semana, que servisse de base para suas escaladas e para estarem próximos da natureza exuberante do Parque Nacional da Serra do Cipó, uma importante unidade de conservação na Serra do Espinhaço, zona central do estado de Minas Gerais, famosa por suas cachoeiras e cânions e por suas formações rochosas.

A região da Serra do Cipó, que já foi chamada de “jardim do Brasil” por Burle Marx, abriga uma diversidade florística impressionante e foi exatamente a vegetação de um terreno em particular que chamou atenção dos cinco casais que procuravam um local para construir a sua vila, batizada de Iapó, que significa “rio de raízes” em tupi, e que pode ter sido o nome original da região do Cipó. Definido o terreno, o projeto teve início tomando como base alguns pressupostos construídos coletivamente pelos cinco casais e compartilhados com os arquitetos, como princípios inegociáveis para a concepção da Vila Iapó.

O primeiro e mais importante deles dizia respeito à implantação das cinco habitações e do espaço de uso comum, que deveriam respeitar integralmente a presença das várias árvores de médio e grande porte, mesmo que para isso fosse necessário criar um ordenamento mais heterodoxo entre os volumes, fazer seguidas correções nos levantamentos topográficos em relação à posição de cada árvore e ainda admitir pequenos ajustes na implantação geral já no início das obras, no momento da marcação da movimentação de terra e das fundações. Além disso, a cuidadosa definição dos níveis de cada um dos volumes respeitando a topografia, equilibrando cortes e aterros, fez com que o mínimo de terraplanagem precisasse ser feita, mais uma vez privilegiando a presença das árvores no terreno. As árvores definiram o projeto.

O segundo princípio estava na solução arquitetônica das cinco casas. Sua volumetria foi definida a partir de dois gestos projetuais que privilegiaram a questão da sustentabilidade ambiental, articulando-a com as questões funcionais, construtivas e estéticas das casas. Os lados maiores dos volumes foram conformados como grandes planos de vedação dupla, com tijolos cerâmicos do lado externo e blocos de concreto do lado interno, o que criou uma condição de inércia térmica excelente para essas superfícies do volume que, por sua extensão, recebem a maior parte da radiação solar diária. Além disso, a solução garante uma condição adequada para as instalações prediais e gera maior privacidade entre uma casa e outra. A segunda estratégia sustentável para os volumes das casas foi criar a possibilidade de aberturas quase totais nas faces menores do volume, garantindo uma ótima condição de ventilação natural cruzada por diferença de pressão. Por fim, a adoção de uma cobertura de uma só água inclinada para os fundos, aumenta a altura da abertura frontal das casas, contribuindo também para favorecer a ventilação cruzada. Também era um princípio fundamental para a Vila Iapó, desde o início das conversas e do projeto, a racionalização de recursos naturais por meio do aproveitamento das águas pluviais e do uso da energia solar.

Os planos de cobertura sobre os volumes construídos funcionam como grandes coletores da água da chuva, direcionando-a para um sistema de condutores com uma canaleta de concreto comum entre os volumes e gárgulas que direcionam a água para reservatórios específicos para tratamento e aproveitamento. Além disso, o sistema de coletores solares adotado para aquecimento de água, garante economia significativa de energia elétrica.

O quarto princípio fundamental da sustentabilidade ambiental da Vila, e que também se articula com os princípios de sustentabilidade social e econômica, foi a adoção de materiais construtivos e mão de obra local. Isso garantiu a redução significativa dos impactos com o transporte de materiais e pessoal até o canteiro de obras já que foram utilizados tijolos, blocos, perfis metálicos e peças de madeira de fornecedores locais, além de pequenos empreiteiros locais para a execução dos serviços como construtores, marceneiros, serralheiros, eletricistas e bombeiros. A ideia de uma obra de baixo impacto, sem atividades que mobilizassem grandes quantidades de pessoas e máquinas, ao mesmo tempo favoreceu a redução de impactos na flora e fauna local e contribuiu para um processo de construção com o mínimo de interferência na vida cotidiana dos vizinhos.

A construção ficou pronta e as cinco famílias podem agora habitar seu sonho comum. A Vila Iapó materializa não só o desejo de cinco famílias de poderem conviver e criar seus filhos numa condição de proximidade com a natureza. Materializa a possibilidade de conciliação entre a construção e o uso das edificações de um lado e o respeito e o cuidado com a preservação ambiental do outro. Um caminho possível para a difícil transformação de uma ideia tão repetida, mas ainda tão difusa como a sustentabilidade ambiental em práxis cotidiana.