Casa Nômade
Pesquisa desenvolvida a partir de um convite da revista Bamboo, publicada em novembro de 2015.
A casa nômade precisa, sobretudo, de um endereço na metrópole.
Esse é o ponto de partida dessa proposta, que inverte o objeto de investigação: em lugar de desenhar o dispositivo nômade, nos dedicamos a imaginar como cada um dos mais variados tipos de casas nômades poderia se inserir temporariamente nas cidades, em diferentes situações urbanas.
Pensar a sustentabilidade nas metrópoles contemporâneas pressupõe considerar a alta densidade, a livre acessibilidade e a oferta de infraestruturas como uma plataforma que providencie a liberdade dos que se decidem nômades. A casa nômade só pode existir a partir de uma ecologia do urbano, radicalmente conectada à cidade e dela usufruindo plenamente.
O que se propõe é, portanto, a criação deste endereço, introduzindo na cidade uma nova tipologia — o suporte infraestrutural — que preenche vazios, recebe as mais variadas casas nômades e define, assim, um tipo de edifício cuja imagem está permanentemente em construção, pensado aos modos de uma plataforma permanente que acomoda a mutabilidade e pode receber qualquer casa, facilmente içada a uma cota elevada, sustentada por um sistema estrutural metálico, leve e conectada aos sistemas de infraestrutura. Estes, por sua vez, otimizam os recursos e a escala por serem concebidos coletivamente, previamente planejados e integrados a todos os sistemas de produção de energia, reuso de água, tratamento e reciclagem de resíduos.
Essas infraestruturas poderiam ainda se conectar diretamente aos sistemas de transporte público das cidades — metrôs, bondes, ônibus, ciclovias, calçadas e parques de bolso nos seus pavimentos térreos — sempre tratados como extensões da cidade, com alta capacidade para estimular o uso público como áreas livres com ocupações temporárias, que também podem conectar-se às redes de infraestrutura predial, como os restaurantes e bares nômades contemporâneos — os já populares food trucks.
Pensada como um sistema que consideraria a implantação de diversos suportes como esses ao longo das áreas mais densas das cidades, a infraestrutura para a casa nômade brasileira permitiria ampliar a liberdade dos seus moradores, que poderiam mudar de endereço conforme a sua conveniência, para morar perto do trabalho ou da escola e, consequentemente, reduzir deslocamentos cotidianos na cidade e evitar a demanda por transporte público.
A investigação sobre as possibilidades de apropriação, de um lado, do espaço aéreo ou de vazios e áreas residuais nas cidades — como as empenas cegas de grandes edifícios de áreas centrais — ou, de outro lado, a reinterpretação de modelos urbanos notáveis, originalmente concebidos a partir de sistemas arquitetônicos completos e estáveis, como as Superquadras de Brasília, introduzindo-lhes a indeterminação e a mutabilidade, são apenas duas entre tantas possibilidades de criação de endereços para as casas nômades.